Mais de 100 professores muçulmanos foram intimados a participar de um seminário sobre a "ameaça" de proselitismo cristão, em Johor, cidade ao sul da Malásia, o que provocou ainda outra polêmica envolvendo o direito à prática multirreligiosa no país
Na Malásia é ilegal tentar converter muçulmanos a outras religiões. Os líderes muçulmanos disseram que o governo de maioria muçulmana da Malásia tem o dever de defender a religião. Já as lideranças cristãs, consideraram o seminário uma forma de inflamar a população contra os cristãos.
"O problema da cristianização no pais tem sido abordado há algum tempo, e é real", disse Datuk Sheikh Abdul Halim Abdul Kadir, presidente da Associação Ulemá* da Malásia, ao site The Insider Malasya. "É preciso educar os professores, especialmente os mais jovens, que desconhecem este problema.”
Os líderes cristãos, entretanto, lamentaram o posicionamento e a finalidade do seminário. "É totalmente contraditório o seminário ter sido realizado em um local público e com o patrocínio de uma agência do governo", disse Herman Shastri, secretário do Conselho de Igrejas da Malásia. "O governo deveria acabar com isso”. Herman disse que as igrejas cristãs não podem deixar de pregar aos muçulmanos, mas também não é possível descartar que alguns grupos fundamentalistas isolados atentariam para isso e tomariam medidas contra.
Datuk Azman Amin Hassan, chefe de um comitê responsável por promover acordo inter-religioso, também criticou o seminário como contraproducente aos esforços do governo federal para melhorar a tolerância religiosa no país.
"Eu vou instruir meus oficiais a ficarem de olho no seminário e em seu conteúdo. Acabamos de lançar a semana de harmonia inter-religiosa nas escolas. Isto não é coerente com as ações que temos tomado", disse ele ao site The Insider Malasya.
O seminário aconteceu em decorrência de alegações por todo o país de que os cristãos estão pregando para os muçulmanos. Em agosto passado, as autoridades islâmicas invadiram uma igreja em Petaling Jaya para investigar se os cristãos estavam convertendo muçulmanos secretamente em um jantar para levantamento de fundos.
Desde outubro, uma organização não governamental muçulmana chamada Himpun organizou quatro comícios, atraindo milhares para protestar contra o proselitismo aos muçulmanos.
Shaharuddin Badaruddin, professor de ciências políticas na Universiti Teknologi Mara, disse que o governo precisa conter essas explosões inter-religiosas que normalmente acontecem perto de eleições, quando extremistas religiosos tentam pressionar um governo ansioso em agradar os eleitores muçulmanos. "O mais importante é promover o diálogo civilizado, ao invés de deixar que tome proporções desagradáveis de confronto para resolver questões inter-religiosas", disse ele.
*Ulama, também conhecido como ulemá, refere-se à classe de juristas muçulmanos envolvidos nas diversas áreas de estudos islâmicos. Eles são mais conhecidos como os juízes da lei islâmica (sharia).
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FonteJakarta Globe
TraduçãoMarcelo Peixoto
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